Breve – Marjorie Bier

17/03/2010

apaixonado

todo o meu corpo te beija

.

amado

sou inteiro para o teu

Templos – Fabiane Dornelles

25/01/2010

As portas do templo fechadas

E eu aqui…

Minha fé de joelhos hesita… (será fraca?)

Não  deseja entrar,

Nem sair…

Impuros fiéis mendigam bençãos

Mas nem sabem pedir…

Ficam ali,

De longe observo os pecados

E sinto a torre me engolir…

Pássaros e homens inquietos

E  sinos calados

Com seu ritual,

Permanecem  suspensos…

Atormentadas almas doentes,

Famintas de amor…

Há rosários (e lágrimas) no chão…

Ouço risos hipócritas,

E dementes clamores (de quê?)

Uma cruz solitária perfila sua sombra

E vem me buscar…

Há ainda alguma luz perdida

A vagar por aqui…

E eu me escondo… não quero (nem posso ir…)

São pecados demais,

Que cometi…

Calçadas marcadas por passos arrependidos (do quê?)

Procissões (de desespero)

Passam sempre por aqui,

E pedem: “Ó, roguem por mim”

Segue a romaria egoísta,

E velas queimadas derretem

Esperanças,

Apagam-se,

Cessa a luz…

A penitência no escuro,

É seguir,

Segue o calvário urbano…

Sem luz,

E sem prece…

O vigário esquecido

Esquece o sermão (decorado. E a batina?Jesus!)

Há um matrimônio  por vir…

Cabelos enrrolados,

Ensaios, sem fé…

Vestidos e flores

E festas, e sonhos

Será essa toda a beleza que há?

Pilastras escondem a verdade

Não a deixam entrar…

Não haverá perdão quando a porta se abrir

E o céu se fechar.

De longe, de novo,

Observo…

Não poderei entrar,

Nem sair…

Há um exército de santos suspensos

A me vigiar…

Mas não sabem o que sinto

Nem podem devolver o que perdi…

Minha inocência… minha inocência… perdi…

Sou como o anjo expulso,

Desobediente,

Teimoso,

Malvado…

E se Lúcifer não perdoar meus pecados

Permanecerei sempre no erro?

As portas do templo vão se abrir…

Mas não posso entrar…

Nem sair…

Cicatriz – Fabiane Dornelles

11/01/2010

Ferida disfarçada de cura.

Acrobata – Marjorie Bier

28/12/2009

Eu devia ter uns seis anos quando entrei pela primeira vez em um circo.

O circo Moscow nasceu, certa tarde, da boca da minha terceira professora. Era um mágico barco perdido no oceano e repleto de luzes. Havia um par de trompetistas que se diziam guerreiros e palhaços aborrecidos com suas cornetas de papelão. No alto, bandeiras esfarrapadas ondulavam anunciando o maior espetáculo da terra. A lona era desastradamente remendada, como os leões, muitos deles na fila da aposentadoria. Mas ela me contou que aquela lona se faria castelo e que aqueles animais cansados seriam, no passar das horas, os reis uníssonos daquela selva. Uma senhora rechonchuda anunciaria a festa com suas lantejoulas brilhantes enquanto voaria no trapézio a um metro do chão.

Foi então que me imaginei acrobata. Aos seis anos, saltei de verdade, lá do alto, em minha primeira acrobacia. E quebrei as costelas.

E assim, depois, seguiu a vida. Nas horas, longas horas de luta pela liberdade de pensamento, e nos amores: sempre saltando, voando e quebrando as costelas.

Quem pisa a primeira vez em um circo não o abandona jamais.

Das pequenas coisas

10/12/2009

Momentos toloslindos

de minha vida Clariceana.

Feminina essa minha veia.

Lispectorante.

Sopro quente em limo

de boca calada e errante.

Disfarça a minha farsa

de frágil datilógrafa romântica.

Sou mulher-Haia nessa estrada

de argamassa lisaásperacriante.

.

(à Clarice Lispector, poeta das pequenasgrandescoisas, 
falecida em 9 de dezembro de 1977)

Tolices – Marjorie Bier

30/11/2009

Queria te contar como fica a minha casa quando você não vem, mas não sou dessas mulheres que transferem as suas carências e transformam em plágio o coração. Se você não chega, não é porque a porta está fechada ou porque a cortina se perdeu. O que se perde são os rumores, os amores de cada um. Te escrevo, agora, porque me ocorre que nenhum de nós sabe quando é a hora de partir e a hora de ficar. Criamos projetos demais, expectativas demais, loucuras demais e acreditamos, de forma um tanto tola e quixotesca, que só esse tipo de romance é que perdura.

UM TAL JOÃO por SolBatt

29/11/2009

Um tal João…

Poesia de: Solange da Cruz Battirola

De onde veio?

Para onde vai?

Ninguém sabe.

Ninguém viu!

 

Quando chega,

traz na bagagem:

Contos, causos e histórias.

Quando parte,

leva na memória,

outras mil.

 

Sorri alegre.

É feliz.

Com seu velho violão,

sem cordas,

toca e canta.

Ele mesmo pede bis.

 

Capina, roça, varre…

Carrega ou descarrega.

Realiza pequenas tarefas.

Leva e traz.

De tudo um pouco, ele faz

Por alguns trocados

ou por um prato de comida,

Não recusa, nem pão dormido.

 

Hora aqui,

Outra ali.

Pelos vizinhos,

É benquisto.

Se pede, ganha.

Ganha, até mesmo sem pedir.

 

Quando some,

Sentem sua falta.

Diz que vai para a campina.

Visitar sua amada.

Rever a antiga morada.

Leva junto uma enxada,

sua mala de garupa e,

nas costas, a viola companheira.

 

 

O AMOR por SolBatt

29/11/2009

O amor…

por Solange da Cruz Battirola

Palavra e sentimento.

Chega de mansinho,

Envolve docemente,

Impressiona,

Torna-se experiência essencial.

Transforma nossas vidas

Numa entrega total.

Acolhe eternamente,

Aflora  e acalenta.

Permite descobertas, amadurece,

Aprimora, respeita diferenças,

Revigora, incendeia, enlouquece…

A razão provoca o coração.

Ou é o coração provocando a razão?

Força poderosa,

Luminosa,

Faz acontecer,

Transcender!

Impulsiona o universo,

Palavra que se transforma em verso.

Jamais deixe de amar!

A velha história

Torna-se nova,

A cada novo amor!

O AMOR por SolBAtt

RIO DE MINHA INFÂNCIA – por SolBatt

29/11/2009

 

 

 

 

RIO DE MINHA INFÂNCIA

Solange da Cruz Battirola

 

Um riozinho sempre corre em nossas lembranças.

Que seria de mim, hoje, caso não pudesse recordar,

Com saudades o riozinho de minha infância?

Esse apego saudoso me leva a amar,

Viver, sorrir e partilhar esperanças.

 

Remota memória,

Parte de minha história,

São momentos de angústia, luta e glória.

Feito o rio…

Fazendo seu percurso,

Cumprindo seu próprio curso,

Em busca do mar da vitória.

 

Quem não tem um riozinho em sua vida?

Seja ele concreto, imaginário ou literal.

Real é o meu,

Um rio de águas limpas, puras e cristalinas.

 

Talvez nem corra mais como outrora,

De todo modo, ele é o meu rio,

Para todo o sempre.

Infância é isto,

Um barulhinho d’água

Que nos acompanha

Eternamente!