apaixonado
todo o meu corpo te beija
.
amado
sou inteiro para o teu
apaixonado
todo o meu corpo te beija
.
amado
sou inteiro para o teu
As portas do templo fechadas
E eu aqui…
Minha fé de joelhos hesita… (será fraca?)
Não deseja entrar,
Nem sair…
Impuros fiéis mendigam bençãos
Mas nem sabem pedir…
Ficam ali,
De longe observo os pecados
E sinto a torre me engolir…
Pássaros e homens inquietos
E sinos calados
Com seu ritual,
Permanecem suspensos…
Atormentadas almas doentes,
Famintas de amor…
Há rosários (e lágrimas) no chão…
Ouço risos hipócritas,
E dementes clamores (de quê?)
Uma cruz solitária perfila sua sombra
E vem me buscar…
Há ainda alguma luz perdida
A vagar por aqui…
E eu me escondo… não quero (nem posso ir…)
São pecados demais,
Que cometi…
Calçadas marcadas por passos arrependidos (do quê?)
Procissões (de desespero)
Passam sempre por aqui,
E pedem: “Ó, roguem por mim”
Segue a romaria egoísta,
E velas queimadas derretem
Esperanças,
Apagam-se,
Cessa a luz…
A penitência no escuro,
É seguir,
Segue o calvário urbano…
Sem luz,
E sem prece…
O vigário esquecido
Esquece o sermão (decorado. E a batina?Jesus!)
Há um matrimônio por vir…
Cabelos enrrolados,
Ensaios, sem fé…
Vestidos e flores
E festas, e sonhos
Será essa toda a beleza que há?
Pilastras escondem a verdade
Não a deixam entrar…
Não haverá perdão quando a porta se abrir
E o céu se fechar.
De longe, de novo,
Observo…
Não poderei entrar,
Nem sair…
Há um exército de santos suspensos
A me vigiar…
Mas não sabem o que sinto
Nem podem devolver o que perdi…
Minha inocência… minha inocência… perdi…
Sou como o anjo expulso,
Desobediente,
Teimoso,
Malvado…
E se Lúcifer não perdoar meus pecados
Permanecerei sempre no erro?
As portas do templo vão se abrir…
Mas não posso entrar…
Nem sair…
Ferida disfarçada de cura.
Eu devia ter uns seis anos quando entrei pela primeira vez em um circo.
O circo Moscow nasceu, certa tarde, da boca da minha terceira professora. Era um mágico barco perdido no oceano e repleto de luzes. Havia um par de trompetistas que se diziam guerreiros e palhaços aborrecidos com suas cornetas de papelão. No alto, bandeiras esfarrapadas ondulavam anunciando o maior espetáculo da terra. A lona era desastradamente remendada, como os leões, muitos deles na fila da aposentadoria. Mas ela me contou que aquela lona se faria castelo e que aqueles animais cansados seriam, no passar das horas, os reis uníssonos daquela selva. Uma senhora rechonchuda anunciaria a festa com suas lantejoulas brilhantes enquanto voaria no trapézio a um metro do chão.
Foi então que me imaginei acrobata. Aos seis anos, saltei de verdade, lá do alto, em minha primeira acrobacia. E quebrei as costelas.
E assim, depois, seguiu a vida. Nas horas, longas horas de luta pela liberdade de pensamento, e nos amores: sempre saltando, voando e quebrando as costelas.
Quem pisa a primeira vez em um circo não o abandona jamais.
Momentos toloslindos
de minha vida Clariceana.
Feminina essa minha veia.
Lispectorante.
Sopro quente em limo
de boca calada e errante.
Disfarça a minha farsa
de frágil datilógrafa romântica.
Sou mulher-Haia nessa estrada
de argamassa lisaásperacriante.
.
(à Clarice Lispector, poeta das pequenasgrandescoisas,
falecida em 9 de dezembro de 1977)
Queria te contar como fica a minha casa quando você não vem, mas não sou dessas mulheres que transferem as suas carências e transformam em plágio o coração. Se você não chega, não é porque a porta está fechada ou porque a cortina se perdeu. O que se perde são os rumores, os amores de cada um. Te escrevo, agora, porque me ocorre que nenhum de nós sabe quando é a hora de partir e a hora de ficar. Criamos projetos demais, expectativas demais, loucuras demais e acreditamos, de forma um tanto tola e quixotesca, que só esse tipo de romance é que perdura.
SABORES DE AMIZADE
Solange da Cruz Battirola
Companheirismo, reciprocidade,
Palavras carinhosas, mil sorrisos espontâneos,
Dedicação, confiança e sinceridade.
Diálogo fraterno misturado com tolerância;
(Se não tiver, substitua por convivência humana misturada com paciência).
Acrescente um pouco da sua alegria habitual,
Delicie-se num encontro casual,
Procure ser compreensivo, gentil, honesto e cordial.
Deixe-se descansar por alguns momentos com longos bate-papos…
Segredinhos devem estar bem guardados no íntimo do ser,
Cumplicidade nas peripécias e na arte de bem viver!
Muita conversa fiada jogada fora,
Respeitabilidade pode ser acrescentada a qualquer hora.
Bata tudo ou vibre com o coração, descobrindo as próprias potencialidades.
De vez em quando, uma sacudida na sensibilidade, procurando a verdade.
Para finalizar, junte lentamente o amor, o perdão e a lealdade…
Saboreie as delícias de ser uma pessoa feliz e repleta de amizades!
Um tal João…
Poesia de: Solange da Cruz Battirola
De onde veio?
Para onde vai?
Ninguém sabe.
Ninguém viu!
Quando chega,
traz na bagagem:
Contos, causos e histórias.
Quando parte,
leva na memória,
outras mil.
Sorri alegre.
É feliz.
Com seu velho violão,
sem cordas,
toca e canta.
Ele mesmo pede bis.
Capina, roça, varre…
Carrega ou descarrega.
Realiza pequenas tarefas.
Leva e traz.
De tudo um pouco, ele faz
Por alguns trocados
ou por um prato de comida,
Não recusa, nem pão dormido.
Hora aqui,
Outra ali.
Pelos vizinhos,
É benquisto.
Se pede, ganha.
Ganha, até mesmo sem pedir.
Quando some,
Sentem sua falta.
Diz que vai para a campina.
Visitar sua amada.
Rever a antiga morada.
Leva junto uma enxada,
sua mala de garupa e,
nas costas, a viola companheira.
O amor…
por Solange da Cruz Battirola
Palavra e sentimento.
Chega de mansinho,
Envolve docemente,
Impressiona,
Torna-se experiência essencial.
Transforma nossas vidas
Numa entrega total.
Acolhe eternamente,
Aflora e acalenta.
Permite descobertas, amadurece,
Aprimora, respeita diferenças,
Revigora, incendeia, enlouquece…
A razão provoca o coração.
Ou é o coração provocando a razão?
Força poderosa,
Luminosa,
Faz acontecer,
Transcender!
Impulsiona o universo,
Palavra que se transforma em verso.
Jamais deixe de amar!
A velha história
Torna-se nova,
A cada novo amor!
RIO DE MINHA INFÂNCIA
Solange da Cruz Battirola
Um riozinho sempre corre em nossas lembranças.
Que seria de mim, hoje, caso não pudesse recordar,
Com saudades o riozinho de minha infância?
Esse apego saudoso me leva a amar,
Viver, sorrir e partilhar esperanças.
Remota memória,
Parte de minha história,
São momentos de angústia, luta e glória.
Feito o rio…
Fazendo seu percurso,
Cumprindo seu próprio curso,
Em busca do mar da vitória.
Quem não tem um riozinho em sua vida?
Seja ele concreto, imaginário ou literal.
Real é o meu,
Um rio de águas limpas, puras e cristalinas.
Talvez nem corra mais como outrora,
De todo modo, ele é o meu rio,
Para todo o sempre.
Infância é isto,
Um barulhinho d’água
Que nos acompanha
Eternamente!